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Improvisar Tap é Falar.


Leo Dias e Marcelo Verii. Foto de Nando Spinoza para o Projeto Sapateando Sem Fronteiras

Cada passo, shuffle, flap, wing, uma palavra, dentro de uma frase, dentro de um texto que constitui um sentido - dos sentidos.

Memorizar as palavras é só o começo, e saber dizê-las numa certa ordem, de cor, não significa necessariamente que você entende o que está dizendo. A compreensão profunda vem com o tempo e a prática, e você sabe que se tornou “nativo” da língua quando, na hora em que é necessário falar alguma coisa, as palavras vêm ao natural.


Para isso, é preciso vocabulário… sim.

Há quem diga tanto com palavras tão simples.

E há quem conheça as mais avançadas terminologias e mesmo assim não consiga dizer nada de relevante.


Muito simplesmente, é sobre se ter realmente algo a dizer ou não.


É bem verdade que quanto mais vocabulário a gente tem, quanto mais palavras conhece, mais possibilidades tem para expressar o que pensa e sente. E no entanto,


É igualmente verdade que coisas muito importantes


Eu te amo

Estou triste

Isso não é justo


Podem e devem ser ditas com palavras poucas e simples.



E lá vamos nós... A gente abre a boca, ou nosso sapato verborrágico, e tenta se expressar. Conhece o assunto e já falou sobre ele mil vezes.

E no entanto, na hora de comunicá-lo para outras pessoas, as palavras não vêm. Morrem na garganta. Mesmo que se saiba exatamente o que se quer de dizer.


Então, socorram-me, clichês! Valei-me, Frase de Efeito!

Ora, tem frases que TÊM efeito. Simples assim.

Elas têm efeito por já terem sido ditas um milhão de vezes por incontáveis pessoas e, por isso mesmo, carregarem o peso dessas muitas trilhas humanas. Têm efeito por serem familiares.


Às vezes, são como ditados, provérbios, ensinamentos refinados ao longo de gerações e gerações e que você sabe que, toda vez que você disser, surtirão o efeito desejado.


Mas… qual o efeito desejado? Uma vez dita a frase e constatada sua eficiência em extrair o sorriso e o aplauso que matam as fomes diversas, seremos capazes de dizer outras coisas, além daquilo que a plateia quer ouvir? E naquele momento em que o essencial a ser dito é algo que, quiçá, ninguém venha a compreender, embora seja verdade… a frase de efeito me salva ou me condena?


Tem ambientes em que todo mundo grita

Todo mundo tem muito a dizer, e ninguém escuta ninguém.

Nesses lugares, falar cansa e a solidão é enorme

Porque ninguém se sente ouvido. E é porque ninguém ouve que todos sentem necessidade de falar rápido, e tão alto.

Como se este coração/ouvido que ora se crispa e tensiona ao receber as chicotadas de tanta palavra irrefletida assim cuspida

Pudesse, dessa maneira, acolher alguma coisa!


No fundo, tudo que a gente quer é dizer a nossa verdade e se sentir acolhido.


Agora, bonito mesmo é conversar.

Ouvir o que o outro tem a dizer sem ficar pensando de antemão na resposta mais que me fará parecer mais inteligente que meu interlocutor. Ouvir com toda a alma e responder de forma que a pergunta ouvida e a resposta dada se conectem com tão harmoniosa perfeição que a alegria tome conta do ambiente e todos se sintam parte do assunto.

Ouvir, com reverência, o que cada um à mesa tem a dizer. Valorizar essa voz - a dos sapateadores, aqui e ali, mais eloquente nos pés - essa voz humana que testemunha, em cada vida, um mundo. Ouvir o burburinho dos muitos sussurros e sentir-se, simplesmente, parte. E, às vezes, tão somente calar-se, quando aquilo que o outro tem a dizer se torna tão importante que falar se torna desnecessário.


Às vezes, falar é desnecessário.

—----

Improvisar Tap Dance é falar.

A fala só se completa na escuta.

Eu quero te ouvir. Mas não minta. Fale do coração.


O que você tem a dizer?

Leo Dias e Valetin Cruz na foto de Nando Spinoza para o projeto Sapateando Sem Fronteiras

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