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Dois Poemas Sobre Tap

Nada além de um #sapateador exausto deste 2021 pandêmico, mas infinitamente grato por ainda haver sapato, tábua, vida.


Um Poema Para Derick Grant


So I jumped in this cutting contest.

Em um desses setembros invernais.

Era um grande festival de Tap

Tantos sapateadores e tão pouco amor.

Cada olhar me queria um beat aquém.

E no entanto,  o olhar é como o raio que, na verdade, sobe,  e não cai.

E como cada olhar começa em mim, oras...

Quem não é minúsculo perante a imensidão da ancestralidade do tap?

E daí eu vi você e mais nada, e não venci. E tampouco perdi

Porque você era tão, tão bom!

Thank you very much. Lemme get your shit and go home.


That cutting contest. One of those septembet winters

Onde era? Não lembro

Lembro das tábuas,  de você e de mim.

Am I getting cut?

Quem corta esculpe, dá forma, refina, se livra do desnecessário

Quem corta rompe com alguma coisa

Liberta alguma coisa.

Você era tão, tão bom! But hey

Para ter o ego em pedaços, basta uma aula de história.

Nada há para ser temido depois de

Jimmy

Buster

Bubbles

Legon

Pitts

And so on...

Tão bom você era que eu não pude vencer. Vence o Tap, através de nós dois.


That same cutting contest. Era inverno em novembro

Mas o raio do olhar me confunde: Who is cutting me?

As muitas pequenezas de quem não entendeu ainda que é uma gota?

A imensidão dos teus wings, em que vôo...


Ou o espelho? As tábuas?

Todo dia de volta às tábuas: AGAIN

Suor dor prazer frustração triunfo: AGAIN

Atirar-se de cara contra a força do outro até encontrar uma voz: AGAIN

Estar sempre aquém da lenda que foi mas ainda assim nutrir um porvir que é...

AGAIN

E por tudo isso ser grato...


Eu quero mais um cutting contest em um setembro invernal

Quero ser cortado até não sobrar nada além de força

Um riso, um ritmo

Um agora sonante.

Você é tão tão bom! Thank you so much.


Araucária


Em que pago finca raízes

Uma árvore alta como o céu?

Que sentido fazem fronteiras

Para raízes que bebem de água antiga

A fluir pelo subterrâneo silencioso?


Dizer "eu sou" nunca será suficiente

Para quem se percebe humano.

Eu somos. Eu somo.


Do alto da coxilha contemplo a imensidão do pinheiro araucária

Sentado ao lado da pedra grande, de onde vejo minha casa

À distância

De onde vejo a imensidão do pinheiro

Desde criança

De onde me vejo em perspectiva.


Alto, a grimpa faz cócegas na nuvem que passa.

Mais velho que a casa.

Mais velho do que eu.


De pronto, desde a raiz me sobe a fúria do bombo leguero

Kitlacotatam kitlacotatam de chacareras e chamamés que me ninaram outrora

E neste groove andino ameríndio afro gaúcho encontro alguma coisa que aponta o caminho da raiz:

Pra baixo. Mas,


O que é o baixo se não o caminho do centro?

E se a terra é uma esfera

Por que não o cedro, a sequóia, o pinheiro canadense e o abeto...

Porque se toda folha desenha uma sombra particular no húmus do bosque

Toda raiz busca a mesma água

E ser micélio é simplesmente humano.


Desde a copa da araucária afundo vigorosamente raízes

(Porque quanto mais subo em direção à luz, tanto mais base preciso para me suportar)

E já não me surpreendo quando meu pé esquerdo mergulha seus dedos metálicos no Mississipi

Enquanto o direito busca os Andes.

E já não me tira a paz quando meus taps querem soar as chinesas florestas de bamboo

Y bueno

De África, quem não é semente?


Meus pés soam porque eu somos.

Ao lado da pedra grande encontro a paz

Porque a araucária me sussurra

Que a água é uma

A terra é una

O sol é o mesmo

E que, se a cada folha a sua silhueta

A raiz nada entende de fronteira.




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