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O Dia do Sapateado, Gregory Hines e “Tap, a Dança de Duas Vidas” - por Alexei Henriques


O dia internacional do sapateado é comemorado no dia 25 de maio, pois essa é a data de nascimento do sapateador Bill Bojangles. Mas esse dia só entrou para o calendário americano em 1989, no mesmo ano do filme “Tap” (Tap, a Dança de Duas Vidas) estrelado por Gregory Hines. Vamos falar um pouco mais sobre eles e entender sua relação?


Um dos grandes nomes do sapateado com uma enorme importância para a história dessa dança, principalmente nos anos 80 e 90, durante o renascimento do sapateado, é Gregory Hines. Além de sapateador, ele era também cantor e ator tendo feito vários programas de TV, filmes em Hollywood e musicais na Broadway. Começou a sapatear ainda criança fazendo shows em casas noturnas com seu irmão mais velho, Maurice, além de ter tido aulas com o coreógrafo Henry LeTang e outros da velha guarda como Howard “Sandmans” Sims e os Nicholas Brothers. Através de filmes, shows, documentários e programas de TV, Gregory Hines foi um dos grandes responsáveis pela divulgação do sapateado nessa nova fase e pela valorização dos antigos hoofers. Ele fez mais de 30 filmes, muitos de grande importância para o sapateado dessa época como The Coton Club (1984), filme dirigido por Coppola, com participação do seu irmão Maurice Hines e que fala sobre essa famosa casa noturna da era de ouro do sapateado, “White Nights” (O Sol da Meia Noite) de 1985, onde ele contracena com um dos mais famosos bailarinos de seu tempo, o russo Mikhail Baryshnikov, e Bojangles (2001), onde ele faz o papel principal.


Gregory Hines também participou de programas de TV, chegando a ter o seu próprio programa chamado The Gregory Hines Show em 1992 e fez papéis em musicais da Broadway como The Girl in Pink Tights (1954), Eubie! (1979), Comin’ Uptown (1980), Sophisticated Ladies (1981) e Jelly’s Last Jam (1992), o qual chegou a ganhar um Tony Award de melhor ator em musical. Sempre que podia, Hines colocava o sapateado em seus trabalhos e sempre possuiu muito apreço e respeito à velha guarda do sapateado. Grandes nomes da atualidade foram alunos de Hines, como Savion Glover, Dianne Walker, Ted Levy e Jane Goldberg.


Mas aquele que talvez seja o filme mais importante dessa nova fase do sapateado e que foi feito pelo Gregory Hine, foi o “Tap” (Tap, a Dança de Duas Vidas) de 1989, dirigido por Nick Castle e coreografado por Henry Le Tang. Além de ter a sua participação como protagonista e a de Savion Glover ainda criança, o filme também possui em seu elenco vários dos maiores sapateadores negros da era do swing como Arthur Duncan, Bunny Briggs , Howard “Sandman” Sims, Steve Condos, Harold Nicholas e Jimmy Slyde. Como Amália Machado e Flávio Salles dizem em seu livro Tap, A Arte do Sapateado, “O longa traz, ao mesmo tempo, uma reverência à velha guarda do sapateado e uma inovação com coreografias mais atuais”. Apesar do sapateado americano ter nascido e se desenvolvido principalmente com o povo negro americano, na era de ouro dessa dança as estrelas mais ricas e famosas, que faziam parte da indústria cinematográfica, eram brancas. Com esse filme, os antigos hoofers, ignorados por Hollywood em sua época áurea, puderam finalmente ter algum espaço no cinema, imortalizando suas performances.


Em 8 de novembro desse mesmo ano, o dia nacional do sapateado foi oficializado pelo congresso americano com a assinatura do então presidente George Bush. E o dia 25 de maio, dia do nascimento de Bill “Bojangles” Robinson, foi o escolhido para honrar esse grande ícone do sapateado americano. Robinson foi um grande contribuinte para o desenvolvimento da técnica e estilo dessa dança, além de ter cruzado barreiras raciais e comerciais.


Mas para conseguir oficializar essa data, foi necessário um longo caminho. Em 1983, o congressista Edward Boland (MA, 2º Distrito) já havia apresentado um projeto de lei para designar todo o mês de maio como o Mês da Apreciação Nacional do Sapateado. Mas o projeto não teve êxito naquele momento. Poucos anos mais tarde, a estudante de pós-graduação Linda Christensen com a sua professora de sapateado da época, Carol Vaughn, e seu colega de classe Nicola Daval criaram uma organização sem fins lucrativos, o TAP (Tap America Project), e deram início ao projeto de lei que oficializaria o dia nacional do sapateado. No decorrer desse tempo, toda classe do sapateado, fãs, estúdios de dança, organizações de dança, professores, estudantes, administradores e escritores se juntaram à causa delas. Mas foi com o “Tap, a dança de duas Vidas” que, em conjunto com a produtora do longa, houve uma campanha que serviu tanto para a divulgação do filme quanto para a divulgação do projeto de lei. Após finalmente o projeto de lei entrar em vigor, a notícia acabou se espalhando para outros países fazendo com que o dia nacional do sapateado acabasse se tornando o dia internacional do sapateado.




(Trecho do filme “Tap, a Dança de Duas Vidas”. Aqui, os sapateadores estão fazendo uma batalha bem da maneira como era feito no Hoofers Club durante a era de ouro do sapateado. Essas competições de improviso tão comum naquela época acontecem até hoje. Nessa cena o Henry Le Tang, coreógrafo do filme, está ao piano e os sapateadores que aparecem dançando no vídeo são (na ordem): Arthur Duncan, Bunny Briggs, Jimmy Slide, Steve Condos, Harold Nicholas (um dos Nicholas Brothers que falamos no meu 1o texto para esse site, o “Melhor Número de Dança da História”, Howard ‘Sandman’ Sims, Sammy Davis Jr. e Gregory Hines.)


Sobre o autor:


Alexei Henriques foi aluno e professor assistente da Academia do Tap (RJ) e é formado pelo ICQID (Curso de Qualificação de Instrutores de Dança) do Sindicato da Dança do RJ. Sapateou no Criança Esperança 2008, foi convidado a sapatear no carro alegórico do Salgueiro (2011), no programa de TV da Fátima Bernardes (2013) e dançou no show "Globo 50 anos", no Maracanãzinho (2015). Já ganhou bolsa para diversos festivais nacionais e internacionais como o DC Tap Festival (EUA), onde ganhou em 1o lugar com uma coreografia própria o DC Tap Competition (2014). É formado em música pela UFRJ com bacharelado em violino já tendo tocado com a OSB Jovem e em diverças peças de teatro como "Coisas do Gênero", do Centro de Teatro do Oprimido, tendo se apresentado em diversos lugares como Palestina, Áustria, Croácia e Guatemala. Atualmente faz parte da Orquestra Brasileira de Sapateado, dá aulas de violino e sapateado e faz parte, como coreógrafo de sapateado, do projeto Unirio Teatro Musicado.


(texto originalmente publicado no site Poéticas Em Bytes.



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