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POR QUE ENSINAR IMPROVISAÇÃO? (por Leo Dias)

Quanto mais estudo e me aprofundo em reflexões a cerca da #improvisação em #sapateado, de sua potência de comunicação e poder de transformação, mais forte se torna meu desejo de que ela passe a ser tratada como um campo de conhecimento e de que seja levada de forma mais consistente para dentro das aulas de dança e, por que não dizer, dos ambientes educacionais em geral.


É curioso que sejam tão poucos os espaços e tão pequeno o tempo dedicado, mesmo entre sapateadores, ao estudo da improvisação, especialmente se levarmos em conta que o improviso é um dos componentes marcantes da própria origem desta arte, e que muitos dos grandes mestres sapateadores, atuais e de outras épocas, em que costumamos nos espelhar, costumam se expressar através do improviso (verdade seja dita, em festivais específicos da modalidade têm sido mais frequentes os cursos de improvisação. Caberia perguntar em que medida isso está refletindo no trabalho que cada um de nós, professores de tap, desenvolve nas escolas.). Buscando respostas para estes questionamentos, me arrisco (é sempre um risco) a tecer algumas hipóteses.


1) Será que a absorção do sapateado pelas escolas de dança como uma modalidade ao lado, por exemplo, do ballet clássico (isso quando da febre do tap, no começo do século passado) não configurou uma forma de ensinar sapateado que se aproximava mais do fazer das escolas do que do "sapateado da rua" ou "dos nightclubs"? Será que não houve uma tentativa de formatar o ensino do sapateado dentro de moldes oriundos de outras modalidades (Aquecimento, barra, centro, etc), deixando a improvisação de lado neste processo? Indo mais além: uma vez estabelecido dentro das escolas, será que o afã de atender às demandas destas - espetáculos de final de ano, festivais competitivos, etc. - não ajudou a colocar a improvisação em segundo plano em relação à criação coreográfica?


2) Será que a ausência de um trabalho metódico, diário e sistematizado de estudo de improvisação em tap, somado à dificuldade que a comunidade da dança (alerta de generalização grosseira) tem de conviver, aceitar, usufruir e inclusive questionar a existência do ERRO, não contribuiram para uma mistificação do tipo "improvisar é um dom", "improviso é só pra quem tem muita estrada", "improviso não se ensina"? Será que o ensino do sapateado, em sua curva histórica, em contato com a cultura das "pessoas perfeitas" e distanciado de suas raízes, passou a ter pânico de um de seus principais elementos?

Perguntas... questionamentos... nada mais! Talvez meros absurdos, deixados em aberto para você, meu leitor, me contradizer, acrescentar, desmentir. O importante é o exercício de reflexão! Enquanto este se dá, me permita dividir contigo algumas ideias sobre POR QUE É UMA ÓTIMA IDEIA ENSINAR IMPROVISAÇÃO em aulas de sapateado.


1) A Improvisação possibililta colocar o sapateado em um contexto social que não é o do palco,e que tem uma qualidade psicológica diferente daquela oferecida pela relação palco/plateia. Na roda de improvisação, outros valores estão colocados em jogo, além daqueles implícitos em apresentar uma obra artística acabada. Valores relacionados à qualidade da vivência, tais como a possibilidade de comunicar-se com outras pessoas de forma não verbal, de descobrir uma voz pessoal e particular dentro de uma linguagem compartilhada, do encontro consigo e com o outro. A improvisação dá à modalidade outras dimensões de "uso", outros "por quês de ser". Isso leva à possibilidade de atingir públicos com interesses diferentes, e a explorar com o tap espaços e tempos diferentes daqueles usados para a apresentação de coreografias.


2) A improvisação pode e deve ter seu ensino sistematizado (há vários professores de tap tecendo reflexões preciosas a esse respeito). As atividades criadas com essa intenção tendem a ter um caráter mais reflexivo e crítico do que a memorização de sequências proporciona, favorecendo assim um aprendizado mais aprofundado. Atividades de improvisação costumam tocar o cerne dos próprios fundamentos do sapateado, das bases sobre as quais ele se constitui. Colocam o sapateador ativamente em contato com estes fundamentos, lidando com eles de perto, internalizando-os. Assim, a improvisação pode ser usada como MEIO (mesmo que não seja um fim em si) para a expansão e consolidação dos conhecimentos do sapateador.


3) O improviso é uma parte crucial da história do sapateado americano. Trabalhar com o improviso em sala de aula é uma oportunidade maravilhosa de contextualizar a aula, oferecendo aos alunos a visão do quadro histórico mais amplo em que todos os nossos shuffles e pullbacks se inserem. É também oferecer uma chave para o entendimento sobre o trabalho dos mestres - um entendimento que, com sorte, resulta em mais amor, mais encantamento pela forma de arte.


Acho que por hoje é só. Desde já me declaro desejoso de conversar sobre o assunto. Aliás, é isso que e encanta no sapateado: pra mim, ele é uma forma de bater papo.

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